Campylobacter: sempre uma preocupação

22 Setembro, 2016

Campylobacter é um micro-organismo que está sempre causando preocupação, quer seja para as autoridades de saúde pública, produtores, indústria ou consumidores.

             Esse micro-organismo é o principal causador de ETA (Enfermidades Transmitidas por Alimentos) em vários países da União Europeia, sendo que na Inglaterra o número de casos de campilobacteriose (a infecção causada por esse micro-organismo) é dez vezes superior aos de Salmonella. Segundo dados publicados no início de 2015, o número de casos de campilobacteriose naquela região vem se mantendo estável nos últimos anos. Nos Estados Unidos Campylobacter é considerado também um dos mais importantes patógenos causadores de doenças diarreicas. Poucos dados existem sobre a incidência de campilobacteriose em países em desenvolvimento.

            Apesar de ser raramente fatal a campilobacteriose pode ocasionar, em um grupo restrito de afetados, sequelas tais como Síndrome de Guillain-Barré, artrite reativa ou síndrome do intestino irritável.

           A maioria dos casos de infecção por Campylobacter está relacionada ao consumo de aves e seus derivados mal cozidos, mas também são relatados casos decorrentes do consumo de leite não pasteurizado e de água contaminada. Uma outra forma comum de contaminação dos alimentos é através da contaminação cruzada.

          Pensando em reduzir o risco de infecções pelo consumo de aves a Agência de Padrões para Alimentos (Food Standards Agency – FSA) do Reino Unido coordena  uma iniciativa chamada Acting on Campylobacter Together  (ACT) que poderia ser traduzido de maneira livre como “Agindo Juntos contra Campylobacter”. O objetivo dessa iniciativa é enfrentar a disseminação do micro-organismo desde o campo até a mesa, e envolve governo, produtores, associações de produtores, indústrias, varejistas e consumidores. Uma das ferramentas usadas é uma publicação eletrônica (ACT e-newsletter) que trás informações sobre as ações que estão sendo planejadas, sendo realizadas (p. ex. distribuição gratuita de testes para monitoramento da presença de Campylobacter nas granjas avícolas pelos próprios produtores) e ações já realizadas. Ao final de 2014 eles publicaram dados referentes ao monitoramento da presença de Campylobacter, durante 6 meses, em carcaças de frangos refrigerados (não congelados) coletadas no comércio. Dentre as 1995 amostras analisadas verificou-se que 70% foram positivas para o patógeno e que 18% apresentavam populações superiores àquela permitida (>103 UFC/g), independente do estabelecimento varejista. Dados referentes a nove meses de estudo deverão ser publicados nas próximas semanas.

            O controle de Campylobacter no campo não é uma tarefa fácil. As medidas adotadas para o controle de Salmonella, outro patógeno importante para a cadeia avícola, tem pouco efeito sobre Campylobacter. Tipos diferentes de intervenções tem sido avaliadas buscando reduzir os níveis de contaminação das aves por esse micro-organismo. Como exemplos pode-se citar aquelas medidas que podem ser aplicadas a campo (barreiras de biossegurança), no processamento industrial (aplicação de vapor e ultrassom nas carcaças) ou no comércio (dupla embalagem para evitar vazamentos, ou embalagens que permitem levar o frango diretamente ao forno). Essa última solução, apesar de eficiente, não teria grande aceitação em nossos países, já que usualmente temperamos as aves antes de assá-las.

            Os Estados Unidos por sua vez, iniciaram ao final de janeiro de 2015, alterações no seu programa de amostragem e monitoramento de Campylobacter e de Salmonella em cortes de frangos e em produtos cominutados (comminuted), não prontos para o consumo (CNRTE), derivados de frangos e de perus. A alteração proposta para amostragem indica a realização de coletas rotineiras ao longo do ano (52 semanas e não mais amostragens infrequentes em dias consecutivos) que permitam a avaliação do desempenho das plantas processadoras usando uma moving window. Baseados nos dados obtidos nos 8 meses que antecederam a publicação (e que mostraram uma prevalência de 3% de Campylobacter nas amostras de CNRTE derivadas de aves e de 1% nas de peru, e de 22% nos cortes de frangos) estão sendo propostos novos padrões de desempenho (performance standards) para esses produtos. Essas propostas estão abertas a comentários até dia 27/março de 2015.

            Apesar de ser um importante micro-organismo causador de ETA e bastante frequente em alguns países, sua detecção em laboratório é trabalhosa e exige bastante dedicação dos técnicos. Devido à sua característica microaerofílica e a relativa facilidade de entrar em estado “viável-mas-não-cultivável” (VNC) sua detecção pode ser dificultada. Dentre os métodos padrão para sua pesquisa e enumeração destacam-se o ISO 10272-2:2006 que permite enumeração à partir de semeadura direta de alíquotas da amostra, e o MLG 41-03 (FSIS-USDA) que é qualitativo.

 

Maria Teresa Destro

Dir. Assuntos Científicos AL - bioMérieux

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